Começo por um site brasileiro, recente, que amplia
gradativamente o seu alcance de atendimento. Desenvolvido por uma empresa de
tecnologia, embora ele se proponha a apoiar educadores e famílias no desafio de
motivar e incentivar os jovens no hábito
de estudar, também atua junto à
empresas no que concerne à promoção de ações de marketing social.
Opto por destacar alguns pontos para problematizarmos aqui:
1) O
que será o hábito de estudo? Essa
questão volta e meia aparece nos debates educativos. Por definição, hábito é sinônimo de costume. E, de acordo com a Wikipédia, “Designam-se
como costumes as
regras sociais resultantes de uma prática reiterada de forma generalizada e prolongada, o que
resulta numa certa convicção de obrigatoriedade, de acordo com cada sociedade e cultura específica”. Portanto, coaduno com a corrente que
defende os hábitos apenas para as atividades que queremos involuntárias,
automáticas, que se fazem sem pensar – sobretudo às de higiene e educação, como
lavar as mãos, escovar os dentes, tomar banho, ou cumprimentar as pessoas,
agradecer, pedir desculpas ou licença etc.
2)
Ainda aí trago apenas uma provocação: mais desafiador
do que hábito de estudo, me parece o
permanente desafio educativo de motivar os
jovens a querer saber mais! A
perspectiva extrapola a questão do ESTUDO propriamente dito; e se coloca no
patamar da curiosidade científica – aquela que, em última análise, é a grande
propulsora da produção permanente e dinâmica de conhecimento em todas as áreas
do saber. Entendo, então, que os espaços de educação formal e não formal, bem
como as plataformas de e-learning (como faz a Xmile Learning S/A, na qual atuo) deve pregar a
ideia do PRAZER pelo SABER MAIS, pela DESCOBERTA, pelo APRENDER... Fortalecer a
CURIOSIDADE e o DESEJO DE SABER, aliados à CRIATIVIDADE – isto é: em formas originais
de solucionar problemas. Isso sim me parece um bom desafio e boa missão...
3)
Por fim, este site por mim analisado, como a
absoluta maioria dos demais – inclusive aqueles bem cotados no mercado! –,
oferece uma estrutura SUPER escolar – e
cabe aqui nos perguntarmos: a que modelo de escola estão recorrendo? O exemplo por
mim analisado tem professora (de óculos e tudo, sempre com a mão para cima,
como quem vai escrever no quadro de giz), disciplinas e conteúdos explicitados.
Se escolhemos, por exemplo, PORTUGUÊS, TEMA “formação de palavras” e ASSUNTO
“vogais e consoantes”, entramos no jogo “dose dupla”, que é apenas de “observe
os quadrados que aparecem na tela e junte os pares que combinam”. Se acertamos,
os quadrados desaparecem; se erramos continuam ali. A tela a seguir aparece a
professora diante do quadro branco, escrito em letra bastão: AS PALAVRAS A
SEGUIR COMEÇAM COM QUAL LETRA? QUAIS SÃO VOGAIS E QUAIS SÃO CONSOANTES?
RELACIONE AS LETRAS INICIAIS DE CADA PALAVRA. VAMOS LÁ?! – Mas no jogo em si
[nível Fácil], não há qualquer menção às vogais ou consoantes; tampouco ao nome
das letras. A proposta é um exercício de percepção visual – identificar a letra
colorida (ex: U) como letra inicial de alguma das palavras escritas nos quadros (ex:
URSO). A especificidade do conteúdo fica fora do alcance do jogo, ao encargo d@
professor(a) presencial. No ASSUNTO “sílabas”, os três jogos (fácil, médio e
difícil) são, novamente, idênticos! E a questão em jogo é, mais uma vez, de
discriminação/ percepção visual – inclusive utilizando sílabas bastante
descontextualizadas, com QUAN ou WIL ou HOR, por exemplo. Nada estava ligado às
possibilidades de leitura, e menos ainda, ao uso das sílabas, o que é bem ruim.
Neste jogo, o enunciado diz que vai fazer perguntas, e não há pergunta alguma. Em
algumas propostas de jogos, a estrutura chega a reproduzir uma aula menos
interessante do que aquela que se vê em curso na maioria das escolas: é a
professora de pé, na frente do quadro de giz e nossa função é marcar se a frase
é exclamativa, afirmativa ou interrogativa. Seria isso um jogo? Há dimensão
lúdica nesta proposta? Há qualquer motivação à curiosidade? E volto à pergunta
inicial deste item 3): em que modelo escolar estão baseados?
4)
Ao
encerrar, vem nova mensagem: Continue
jogando e aprendendo, preparando seu futuro! Essa ideia é também bastante
questionável no meio educativo, pois não “preparamos o futuro”, mas o HOJE das
crianças. E o futuro se constitui de uma sucessão de hojes! Quando nos baseamos numa concepção de criança como sujeito,
e sujeito de direitos, não falamos de um porvir, ou de um futuro adulto, mas de
alguém que hoje é criança, tem especificidades como tal, e por estas deve ser
respeitada e valorizada.
5)
Última
dica aos interessados em contratar plataformas ou adquirir/assinar estruturas
semelhantes: tomando como exemplo o que este site oferece para as crianças de
1º ano EF, vale ponderar: não pode ser tudo apenas ESCRITO – as crianças que
ingressam no 1º ano ainda não sabem ler, portanto, é imprescindível ter SOM e
CONVERSAR com elas!
O que vc
tem oferecido na sua casa, escola ou rede de ensino traz propostas que se
assemelham com isso que escrevemos aqui? Cabe ficar de olho... Bj e até dia 07 com mais um post... =D
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