As
consequências de uma não compreensão do que seja o Ciclo da Alfabetização em
sua dimensão mais ampla, sobretudo por parte dos municípios que já o adotam,
são complexas, fragilizam sua consolidação e, principalmente, prejudicam as
crianças. O conceito de Ciclo da Alfabetização, retratado nos três diferentes
questionários e nas visitas in loco feitas
para a pesquisa, ainda está muito reduzido à não retenção nos três primeiros
anos do EF – sem qualquer mudança na estrutura curricular, de planejamento, nos
sistemas de avaliação, nas práticas pedagógicas de sala de aula etc. Assim,
crianças que apresentem algum nível de dificuldade não recebem qualquer tipo de
apoio ou incentivo diferenciado e, com isso, vão sendo deixadas para trás,
segregadas, desacreditadas, até serem reprovadas – não mais no 2º ou no 1º anos,
mas no 3º ano. É essa simplificação conceitual a respeito do Ciclo da
Alfabetização que faz com que tantos municípios confundam o princípio da progressão continuada inerente ao Ciclo,
com a ideia já ultrapassada e questionada de aprovação automática.
A ideia de
Ciclo da Alfabetização passa por despertar as escolas para sua missão de
apostar e acreditar na potencialidade de cada menino e menina ali inseridos,
entendendo-os como sujeitos em permanente processo de aprendizagem – em outras
palavras: para o sucesso do Ciclo da Alfabetização, faz-se necessário entender
que o foco precisa sair do conteúdo em si, para que o protagonismo seja exercido
pela criança e seus processos de apropriação e produção de conhecimentos.
Por outro
lado, é também digno de nota que se não enfrentados os desafios de auxiliar as
crianças em suas necessidades e/ou se professores e gestores não se
comprometerem com o crescimento de cada criança, como já mencionado
anteriormente, cria-se apenas o adiamento de um problema: a reprovação sairá do
1º para o 3º ano do EF. Isso mostra que a organização do Ciclo da
Alfabetização, envolvendo os três primeiros anos do EF, se ficar reduzida
apenas à não retenção, não alterará a qualidade da aprendizagem e,
consequentemente, não favorecerá a meta de alfabetizar / letrar todas as
crianças do Brasil até seus 8 anos de idade. A não retenção deveria ser
entendida como uma consequência do princípio da continuidade no processo
educativo, do respeito ao ritmo de cada criança e, fundamentalmente, do
protagonismo infantil na escola.
Reforço
que é importante ter clareza de que o sucesso no processo de alfabetização/
letramento requer uma multiplicidade de ações interdependentes que passam pela
oferta de: ambiente alfabetizador; propostas lúdicas e variadas; atividades
desafiadoras e criativas; espaços e materiais que ofereçam condições adequadas
de aprendizagem; oportunidades de apoio no contraturno escolar e de atendimento
especial, quando necessário; professores não apenas capacitados e comprometidos
com a proposta mas, sobretudo, certos da potencialidade das crianças; entre
outros. Além disso, as escolas devem buscar parceria e cumplicidade junto às
famílias, procurando conhecer suas realidades, e partir delas para a ampliação
do universo vivencial das crianças; e investir em equipe gestora não apenas
capacitada pedagogicamente, mas também em gestão, de maneira a conseguir
efetivar parcerias com as diferentes instâncias governamentais e com a
sociedade civil, em prol do aprendizado das crianças, mantendo boas condições
de trabalho e diálogo com professores, funcionários, pais, alunos e demais
membros da comunidade circunvizinha.
Que tal se
posicionar sobre isso nos “comentários”?! E, aí, na próxima semana, darei
continuidade a este tema: o que envolve o sucesso na consolidação do Ciclo da
Alfabetização?
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