Ainda na busca de partilhar o GEDUC, trago aqui minhas
anotações e reflexões a partir da interessante fala do americano Jim Legel,
intitulada “Educação 3.0 – quais os novos desafios para a gestão?”.
Legel começa contextualizando historicamente aquilo que
todos sabemos e muitos esquecem: de que a Educação, como prática social, não
pode ser descolada dos modos de ser, agir e pensar da sociedade em que está inserida.
Neste caminho, sinaliza que antigamente crianças moravam nos campos ou pequenos
povoados; brincavam ali mesmo, ao ar livre; estavam cercadas das mesmas pessoas
na escola, nas ruas, nas situações de convívio social; e se utilizavam de
rudimentares instrumentos, sejam em suas ações de brincar, de estudar/aprender,
ou nas tarefas laborais de ajuda familiar. Embora algumas frequentassem a
escola, seus maiores aprendizados eram no seio familiar e na comunidade,
transmitidos por experiência e tradição oral, de geração para geração. Era uma
sociedade e uma Educação consideradas 1.0 – ie, tudo se circunscrevia num mesmo
universo.
As duas Grandes Guerras trouxeram mudanças no mundo e
fizeram com que as pessoas também mudassem seus modos de viver. Sobretudo a
Revolução Industrial abriu as portas das fábricas e assim homens e mulheres saem
de seus microcosmos e passam a fazer trabalhos repetitivos, em outros lugares que
não mais suas casas/propriedades. Trabalhavam geralmente sozinh@s, supervisionad@s
de perto, com ferramentas específicas e pouca conexão com o mundo exterior,
pouca troca. Na escola, a Educação também buscou formar grupos homogêneos,
fazendo as mesmas tarefas, repetitivas, centradas na supervisão direta d@ professor(a).
Os instrumentos de trabalho eram semelhantes
aos de alguns setores do mundo do trabalho: mesas, papel e lápis. Era uma
sociedade e uma Educação consideradas 2.0 – ie, as experiências de vida privada
e de trabalho se circunscrevem em dois universos.
Hoje, os ambientes de trabalho mudaram: cabe aos robôs os
trabalhos repetitivos e desconectados, pois as pessoas se debruçam sobre
problemas nunca vistos/vividos antes e se agregam em pequenos grupos na busca
de uma solução conjunta para estes. As informações vêm de diferentes recursos,
pulverizadas – e isso requer que a comunicação seja ampla, intensa e ágil. É a
sociedade 3.0 – cujas experiências se consubstanciam através de conexões em
rede por todo o mundo.
Mas será que a Educação, então, acompanhou estas mudanças? Grosso
modo, as propostas pedagógicas ainda são estruturadas em cima da ideia de as
crianças estarem fazendo todas as mesmas coisas, ao mesmo tempo. Ainda que muitas vezes em pequenos grupos, têm
majoritariamente pouca conexão exterior, continuam usando lápis, papel e mesas
enfileiradas, supervisionadas de perto por seus/suas professor@s...
Verdade constatar que os sujeitos da escola não estão
felizes! Há uma clara distância entre o “modelo” da sociedade e dos estudantes
em suas vidas privadas (3.0), e aquele ambiente da escola e a realidade
pedagógica d@s professor@s (2.0).
A problematização do Prof. Legel se consolidou em cima das
perguntas: está esta escola favorecendo a formação de cidadãos para agirem no
mundo contemporâneo? Como reverter isso?
Defende o palestrante que se busque oferecer uma Educação
que apoie a formação de pequenos grupos a partir de seus interesses e
identidades; com muitas conexões com o mundo exterior, com propostas
multitarefas, envolvendo um largo círculo de pessoas na busca de resolução de
problemas, utilizando ferramentas digitais. A escola, segundo defende, deveria
se parecer mais com os ambientes de trabalho colaborativos, com trocas digitais
e não mais focadas na (oni)presença d@s professor@s.
Ironiza dizendo que @s professor@s ainda entram em pânico
com a ideia de ter uma turma cheia de laptops – imaginem uma turma criando
robôs!? São enfrentamentos necessários a tod@s aquel@s que se propõem a
favorecer a formação dos sujeitos contemporâneos. E, assim, lista 3 aspectos
que considera imprescindíveis às mudanças:
i)
tod@s @s envolvid@s têm que ter/aprender a usar
os equipamentos que @s estudantes usam!
ii)
professor@s têm que poder participar também de
todo o processo pedagógico – desde a construção do PPP até quaisquer outras
decisões, num processo de gestão participativa (caso contrário, ele continuará
num ritmo de trabalho fabril...)
iii)
tod@s têm que QUERER mudar, e ir na direção da
mudança coletiva e colaborativamente.
E os familiares? Têm que perceber que esta mudança
pedagógica será sempre melhor para seus filhos e suas filhas pois el@s vêm para
casa mais felizes, motivad@s, a fim de fazer suas tarefas/desafios...
Que assim seja! J
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