Uma das crises identitárias que sofro cotidianamente no meu
novo desafio como Diretora do Núcleo Pedagógico da Xmile é decorrente da nossa
linguagem. Cada tribo tem a sua e nem percebe isso. Da mesma forma que eu nada
compreendo (e tenho vontade de acionar a tecla SAP!) durante as explanações
sobre os aspectos específicos da nossa tecnologia feitas pelo nosso Diretor de
TI André Piacentini; é engraçado descobrir que na Educação também usamos
vocabulário particular que gera estranhamento no pessoal que não é da área.
Mais recentemente, ouvi deles que uma coisa muito estranha era a nossa paixão
pelas siglas! E pescaram: PNAIC, FUNDEB, SEB, COEF... usadas corriqueiramente
(e para as quais eles apenas arregalam os olhos!). Ah! Intriga da oposição!!
Isso é mania-Brasil! Vejam lá: IRRF, INSS, ISS, IPVA, IPTU... Elas perseguem a
tod@s nós, não?! =)
Mas siglas à parte, a EaD já foi explorada na
semana passada e nesta semana puxo o foco para a expressão em inglês e-learning, que também
vem se disseminando (Ah! Vamos combinar que a tribo de finanças é que mais
gosta de expressões em inglês? Benchmarking, Royalties, valuation... Conversas
com Nicolas Peluffo e Roberto Kaplan, respectivamente nosso CEO e CFO, também
têm ampliado meu vocabulário! Kkkkk!)... Para isso, retomo a contribuição do
amigo João Alfredo Barcellos, decorrente de suas andanças no
Congresso da Associação Brasileira de Ensino a
Distância.
Escreveu ele:
“Na palestra
"Os imperativos e os desafios da pós-graduação utilizando a EaD e
e-learning", o palestrante Alan W. Tait, da Open University, reafirmou a
EaD como importante alternativa de formação para cerca de 1,7 milhões de
estudantes desde a sua implantação em 1971.Segundo o palestrante, atualmente,
cerca de 71% dos alunos estudam e trabalham. O desafio maior seria o
reconhecimento desta alternativa de ensino, a fim de não ser traduzida como uma
formação de segunda classe dentro da política
governamental; bem como a necessidade de intervenção no processo de
aprendizagem quando se percebe que o estudante está com dificuldades. Da mesma
forma, prossegue Tait, há que se avaliar com mais precisão se o estudante atingiu
o seu objetivo com o EaD.
A palestra de
Ronaldo Mota, do Institute of Education - University of London ("Aprendizagem
independente: uma estratégia para educar para inovação"), reiterou que nos
tempos atuais, diferentemente do passado, a Ciência, a Tecnologia e a Inovação
estão em contínua interação, atendendo e gerando demandas novas. Todavia, o
Brasil, onde o total de profissionais ativos com curso superior e os estudantes
que hoje estão na graduação somam cerca de 6% da população de 200 milhões de
habitantes, não poderá crescer se continuar a contar apenas com o método
tradicional de ensino presencial. Segundo o palestrante, cabe ao setor privado
de Educação ampliar as possibilidades de EaD, uma vez que o setor público não
consegue atender de forma acelerada a esta demanda, sobretudo dos oriundos da
nova classe média, estimada em 40 milhões. Segundo Mota, se não fossem as
graduações via EaD, estaríamos decrescendo no número de estudantes que concluem
o ensino superior no país”.
Parece-me cada vez mais claro que a questão não é somente
ser, ou não ser à distância; usar, ou não usar determinada tecnologia... Mas um
conjunto maior e mais complexo de fatores que passa, entre outros aspectos,
pela avaliação. O desafio maior do e-learning é ampliar o número de estudantes
em processo simultâneo de aprendizagem, sem abrir mão da qualidade. E voltando às
anotações do João Alfredo Barcellos...
“Na palestra
"Analítica da Aprendizagem: Como melhorar o rendimento do estudante por
meio da análise de dados relativos à interatividade nos cursos online", a
palestrante Deb Corso-Larson, da Pearson eCollege, sugere que o e-learning requer:
ensinar aos estudantes a serem criativos, manter com eles uma comunicação
constante (tutor/aluno, via EaD), reiterar a necessidade de estabelecer e ritmo
de estudar várias horas por semana, explicitar bem as tarefas que elem devem
desenvolver (certificando-se de que compreenderam as instruções que foram
passadas), agendar previamente cada interação que será efetivada entre tutor e estudante,
fornecer um feedback rápido, dar ênfase no tempo que deve ser dedicado aos
estudos e comunicar sempre as expectativas”.
E se o e-learning é mesmo uma
possibilidade de ensino para um maior número de pessoas, como fazê-lo sem considerar
que cada uma delas tem um ritmo e uma necessidade diferenciada? Nesta direção,
João partilha a palestra de Vicki Goodwin, da Open University:
"Em “Problemas
na leitura, escrita, memória e organização para alunos disléxicos em ensino a
distância", Goodwin considera a existência de cerca de 4% a 10% da
população com dislexia (índice também aplicado ao Brasil), e reiterou a
necessidade de que previamente fosse dada uma visão geral do que será ensinado
por meio do EaD, que se tivesse uma boa organização e estrutura da proposta,
uma introdução clara e uso de uma linguagem objetiva, sem rodeios. A palestrante reafirmou que o EaD
deve atender às seguintes características: couloured
but NOT patterned backgrounds; clear print FONT (arial or comic sans 18 are
very good to read); avoid small Font sizes; use a larger Font if information is
complex; do NOT justify right-hand margins; use reasonable print Line lengths;
standardize Spelling; do NOT overcrowed the page with information. Segundo
ela, deve-se ter clareza quanto ao objetivo do curso a distância: desejamos a memorização
da informação; ou a compreensão da mesma?”.
Sublinhei propositalmente as duas palavras – memorização e
compreensão – pois acho este aspecto extremamente relevante. A coerência entre
a proposta/discurso conceitual e a prática/proposta oferecida é o que mais me
parece faltar na grande maioria das plataformas de e-learning que temos
analisado. E olha que não são poucas!! Muitas plataformas que se propõe a favorecer
a compreensão e apropriação crítica dos conhecimentos acabam oferecendo
exercícios de repetição mecânica de maneira exaustiva. Assim como é comum vermos
propostas que, para se tornarem “interessantes”, incluem dificuldades motoras
que acabam desvirtuando do foco pedagógico ali delineado... Nesta mesma linha,
João narra sobre a mesa redonda "Jogos Digitais e o EaD" (com a
participação de Denio Di Lascio; e de Monica Valéria Costa Caribé), que levanta
bem esta questão: qual é o objetivo pretendido com a utilização dos jogos? O
que se deseja ensinar/aprender? Sempre ressaltando a necessidade de se conhecer
bem o que se espera do jogo e aonde se quer chegar com a sua utilização – e isso me parece ser o ponto de partida para a construção de uma plataforma de e-learning
por meio de games.
Boa semana a tod@s!