Há quase 4 semanas atrás fechei
uma postagem com a pergunta: o que as escolas estão disponibilizando em seus
ambientes para ampliar e qualificar o universo letrado das crianças do Ciclo da
Alfabetização? Se na postagem supracitada eu foquei os Alfabetários e procurei provocar uma
reflexão crítica sobres seus usos (e abusos?), hoje a ideia seria passear pela identidade
visual das paredes escolares – o que elas comportam? Por que as enfeitamos? Com
o que e por quem são decoradas?
A primeira coisa importante é não perdermos de
mente que a escola é um sistema social complexo e, assim, não é descolado dos
demais. Neste sentido, a consolidação da escola pressupõe a existência de uma
comunidade ao seu redor, da sociedade mais ampla na qual ela está inserida, e
assim por diante até podermos pensar planetariamente – e se estar em um sistema
não é sinônimo de coexistir pacificamente ao redor, ou apartada de outras
instituições, tampouco significa reproduzi-las na tentativa de homogeneização, mas
implica em compreender-se como parte integrante e interagir com elas.
Nesta perspectiva, uma escola, como
ambiente formativo, deve mostrar-se acolhedora a todos os segmentos circundantes
e aos atores sociais envolvidos nos processos de apropriação e produção de
conhecimento – principalmente para as meninas e meninos-alun@s. Este acolhimento passa pela possibilidade de bem estar de todos,
por isso é reflexo da limpeza, iluminação, ventilação, disponibilização de
áreas abertas e cobertas, acesso aos elementos da natureza, adaptações de
acessibilidade, além de toda a opção de disposição dos móveis, entre outros
aspectos. Então, começo provocando: será este ambiente abaixo, acolhedor?
Explicita a identidade, a história e a diversidade cultural dos atores sociais
ali envolvidos?
Ou estes espaços mais se apresentam
como locais estéreis e inóspitos, nus, sem qualquer estímulo ou convite à
participação/ inserção das crianças; locais que mais parecem não-lugares –
terra de ninguém, desabitada?
Impressionante perceber como comumente
as escolas pendem para dois lados opostos da balança: entre serem como o
exemplo acima, frias e vazias, podendo mimetizar-se com qualquer outra
instituição – um hospital, presídio, hospício, repartição pública
burocrática... Ou serem superpovoadas de elementos estereotipados e sem
qualquer relação com os atores locais e suas culturas, como mostram as imagens
abaixo:
Infelizmente,
à estereotipia e à não-autoria expressos em alfabetários, numerários e painéis
decorativos de sala de aula são acrescidos, também, exercícios fotocopiados sem
significação e empobrecidos, que igualmente passam a povoar o ambiente
formativo escolar.
Tanto nas escolas com paredes nuas,
quanto naquelas cujas paredes são superpovoadas de elementos criados pela
projeção que adultos fazem do que seria infantil, os atores sociais da escola
são entendidos e tratados como sujeitos-assujeitados, desprovidos de seus
rastros identitários, de sua história e de sua cultura.
Não
poderiam estas mesmas paredes acolher uma estética mais dialogal com estes
atores? Claro! Vejamos alguns exemplos de duas escolas de Lajeado, MG: Guido Arnold Lermen, e Capitão Felipe Dieter
É muito diferente entrar num ambiente acolhedor, convidativo, que se mostra
dialogal com a comunidade escolar como um todo e com as crianças de cada turma
em particular – um ambiente pleno de fotos das crianças e seus trabalhos
autorais, de maneira que todos podem ver e ver-se ali retratados...
Este tipo de proposta aumenta a autoestima e a percepção de pertencimento, favorecendo a participação coletiva. A
presença de produções das crianças nas paredes da sala e
da escola como um todo também corrobora com a construção de um ambiente
alfabetizador, fazendo da escola “um tempo de aprendizados de
socialização, de vivências culturais, de investimento na autonomia, de
desafios, de prazer e de alegria, enfim, do desenvolvimento do ser humano em
todas as suas dimensões” (In BRASIL. Ensino Fundamental de 9 anos - orientações gerais.
MEC/SEB/DPE/COEF,
2004, p.10).
Notinha de rodapé
Repararam
que esta postagem está 5 dias atrasada?! L
A proposta
era postar no Repensando Escolas sempre às 4fs, e no Repensando Museus nas
2fs. Mas... Bem, gente, estou envolvida numa consultoria para a TV Escola que exige,
ainda, escrita de textos para uma revista. Além disso, fui selecionada por um
edital para uma consultoria bem grande aqui no Rio (que vai trazer MUITAS
coisas legais para o BLOG, pois é voltada aos bem pequenininhos!) e, ainda,
sondada em outras tarefas junto ao MEC. Resumo: sem chance de manter o blog
ativo regularmente! N.E.M P.E.N.S.A.R!!
Com isso,
minha proposta é que curtam o facebook, que está crescendo dia a dia, e cada
vez que eu conseguir uma brecha e postar algo por aqui, a Ariane avisa via facebook!
Que tal?!
E vamos
que vamos!! =)
Ah, mas a Dona Bel não deixaria de falar dos esteriótipos... só porque viu um leãozinho lá na Guido... Ainda bem que temos muitas fotos das crianças e suas criações para compensar não é??? Mas nos fizeste pensar, e pensar é bom. Não somos tão extremistas como os entendidos professores de arte, mas acreditamos cada vez mais que o espaço da escola e da sala de aula é das crianças, para elas e por elas, por isso são sujeitos e fazem deste espaço vida que é. beijão
ResponderExcluirFoi bom, Tati, para vc ver que não é implicância com vcs! hehehe! E realmente minha campanha "abaixo os desenhos estereotipados" sempre se pauta na perspectiva da criança-autora, da criança-sujeito... Só isso! =)
ResponderExcluirOi Maria Isabel, realmente é muito bom ler e repensar as nossas atitudes em sala, com certeza as produções das crianças são muito mais significativas para eles, que tbm adoram ve-las expostas. Já sabemos dissso , mas qdo lemos sobre o assunto com certeza refletiremos ainda mais sobre a nossa prática.
ResponderExcluirQue bom, Rita! A ideia do blog é exatamente essa - problematizar nossas questões e nos possibilitar um olhar às vezes diferente sobre elas... :)
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