TEMÁTICAS TRATADAS AQUI

SÃO TANTOS OS TEMAS IMPORTANTES E INTERESSANTES NA ÁREA... SE NO PRIMEIRO SEMESTRE DE 2012 PROPUS UM RECORTE EM TORNO DA ALFABETIZAÇÃO/ LETRAMENTO, DE SETEMBRO 2012 A FEVEREIRO 2013 A QUESTÃO FOCAL FOI A PRIMEIRA INFÂNCIA. ASSIM SENDO, A PARTIR DE ENTÃO O PAPO VAI SER OUTRO... TECNOLOGIA E EDUCAÇÃO - PODE? APROVEITEM! =)



quarta-feira, 25 de julho de 2012

Revisitando um conceito importante: o Ciclo da Alfabetização


A ideia é que as postagens, a partir de agora, debrucem-se sobre os resultados apontados na pesquisa realizada. De acordo com a amostragem trabalhada, poder-se-ia inferir que o Ciclo da Alfabetização está presente em cerca de 65% do território nacional. Sob o ponto de vista da divisão regional, destaca-se a implantação do Ciclo da Alfabetização nas Regiões SE e NE, respectivemente com 75,6% e 72,5% de adoção. Na Região CO o Ciclo da Alfabetização foi implantado em 50% dos municípios respondentes – próximo à taxa apresentada da Região S, de 57,3%. Apenas a Região N ainda tem maioria de municípios sem Ciclo da Alfabetização, uma vez que apenas 39,5% dos respondentes adota o Ciclo. Mas surpreendente foi que mais de 18% do total de municípios que não têm Ciclo pensavam ter! Isso aguça o foco para um problema que antecede as demais análises: a fragilidade na compreensão do que seja o Ciclo da Alfabetização. Será que você sabe o que é o Ciclo?
No dia 15 de fevereiro, bem no início do BLOG, fiz uma primeira postagem tentando abordar o assunto e, para tal, pedi que a Aricélia Nascimento, Assessora Técnica em Assuntos Educacionais da Coordenação Geral do Ensino Fundamental do MEC, mandasse uma pequena contribuição, que reproduzo aqui:
"O ciclo de alfabetização nos anos iniciais do Ensino Fundamental é um tempo  sequencial de três anos, ou seja, sem interrupções, no qual se considera, pela complexidade da alfabetização, que raramente as crianças conseguem construir todos os saberes fundamentais para o domínio da leitura e da escrita alfabética em apenas 200 (duzentos) dias letivos. No Ciclo concebe-se que o tempo de 600 (seiscentos) dias letivos é um período necessário para que seja assegurado a cada criança o direito as aprendizagens básicas da apropriação da leitura e da escrita; a consolidação de saberes essenciais dessa apropriação; o desenvolvimento das diversas expressões e o aprendizado de outros saberes fundamentais das áreas e componentes curriculares, obrigatórios, estabelecidos nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de Nove Anos". 
E o que os municípios disseram em seus questionários sobre isso?
O trabalho referente ao Ciclo da Alfabetização proporciona às crianças maiores oportunidades em vivenciar situações específicas de letramento e alfabetização, é um processo de aquisição da escrita mediado por textos de diversos gêneros em situações reais de leitura e escrita, tais como ocorrem no seu meio social, ex: leitura de um manual para montar um brinquedo ou aprender as regras de um jogo. Para tanto, quando ainda não dominam o código escrito, necessitam de um leitor experiente, no caso, o professor. Portanto, o ciclo de alfabetização vai além do domínio do código escrito, pois as crianças vivenciam na escola um ambiente rico em experiências de leitura e escrita que as motivam a ler e escrever no início do 1º ano do ensino fundamental os textos que circulam no seu cotidiano. Ao final do 3º ano, além do domínio da base alfabética da escrita, estarão aptas a produção de pequenos textos com autonomia [Martinópolis – com ciclo consolidado – SP].
O Ciclo da Alfabetização dá ênfase na alfabetização, aumenta o tempo pedagógico, proporciona a aprendizagem significativa, tem como foco a alfabetização/letramento (a linguagem oral, escrita, produção de textos e a diversidade de gêneros textuais), práticas inovadoras obedecendo o clico de alfabetização dos 6 aos 8 anos. [Jupi – com ciclo consolidado – PE].
As principais razões que levaram a rede de ensino de Amargosa a adotar o Ciclo de Aprendizagem (Ciclo de Alfabetização) foram: proporcionar a re-organização curricular, re-significação da avaliação, re-definição dos tempos e dos espaços escolares, re-olhar para as concepções de conhecimento, aprendizagem, didática, professor (sujeito do ensino) e aluno (sujeito da aprendizagem), bem como significativa formação permanente dos educandos e real gestão democrática da unidade escolar [Amargosa – com ciclo consolidado – BA].
O trabalho com a alfabetização não se trata mais de um processo de decodificação de códigos, de reconhecer e compreender símbolos. Mas sim de um processo de construção de saberes, explorando um conjunto de práticas que detonam a capacidade de uso de diferentes tipos de textos. É uma proposta em que se leva em consideração o que a criança pensa sobre a escrita e o que ela precisa saber para dar forma ao seu pensamento e evoluir. O contato com o mundo letrado acontece muito antes das letras, por isso esses conhecimentos trazidos pelos alunos precisam ser considerados, analisados e aproveitados para servir como base à atuação do educador [Pinheiral – com ciclo consolidado – RJ].
Assim, grosso modo, podemos considerar Ciclo da Alfabetização toda a experiência de alfabetização/letramento que envolve a criança durante seus três primeiros anos do Ensino Fundamental, de maneira intencional e processual, respeitando os ritmos de produção de conhecimento de cada educando, sem retenção ou novo nivelamento, mesmo que nominada de outra forma.
Mas encerro a postagem de hoje com uma questão: será que a não retenção deve ser um a priori isolado, ou uma consequência de um trabalho mais amplo no Ciclo? Qual é a diferença entre a proposta de progressão continuada intrínseca ao Ciclo, e a aprovação automática?
Escrevam suas experiências e posicionem-se nos “comentários” sobre isso... E semana que vem eu trago mais dados para nosso debate!! =)

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Criança o dia todo na escola?! É tudo de bom!!! – compartilhando a experiência de Coronel Fabriciano


Perdoem-me o “sumiço”, mas o corre-corre por aqui ainda está grande. Tudo indica que, finalmente, vou poder voltar a me regrar um pouco mais e sistematizar postagens semanais aqui neste BLOG e no Repensando Museus... Ai, ai...Tomara!! =)

Bem, o último município visitado por mim para a consultoria sobre o Ciclo da Alfabetização foi em MG – Coronel Fabriciano, no Vale do Aço mineiro. Assim como nos demais municípios visitados, a jornada de trabalho lá também foi bastante puxada. Comecei com grande atraso de voo, perda de conexão, necessidade de mudança de planejamento... Mas nada afetou o carinho do acolhimento de toda a equipe da Secretaria, destacando-se a Álen Carla, Gerente Pedagógica com quem mantive contato durante a pesquisa, e toda a atenção dispensada pela Secretaria Municipal de Educação, Glória.

Logo em nossa reunião inicial fica clara a concepção de infância como tempo alargado, que inclui as meninas e meninos até seus 10 anos de idade, bem como uma perspectiva de educação infantil não preparatória, mas que não se furta a favorecer experiências diversas e plenas de significação às crianças. Contam-me, também, que desde 2000 implantaram o sistema de Ciclos de Temporalidades Humanas (Infância/ Pré-Adolescência/ Adolescência) como forma de estruturação da rede.  Neste município mineiro, visitei duas escolas: a EM Said Albeny e a EM Dom Lélis Lara.

Merece destaque nesta narrativa que a rede pública municipal de Coronel Fabriciano comporta 14 escolas, das quais 12 já oferecem 45h/semanais às crianças, com 4 refeições e atividades que vão desde oficinas de apoio em várias áreas, como ainda dança, percussão, karatê etc. Mas não imaginem que se trata de “dancinha ou musiquinha para criancinha”... Nem pensar!! Falo de um trabalho sério e comprometido, com bons profissionais – tive o privilégio de assistir a algumas apresentações emocionantes e contagiantes!!


A proposta municipal já se estruturava na crença de que o turno estendido era importante para as crianças e, aos poucos, o município ia equipando suas escolas. Com a verba do Programa Mais Educação, do Governo Federal, essa proposta de horário integral tomou ainda mais impulso, e se consolidou de forma a poderem qualificar e ampliar aquilo que já estava sendo oferecido.

Segundo o depoimento de professores deste município, o tempo integral aumenta a autoestima das crianças; e, da minha parte, atesto ter sido muito interessante presenciar meninas e meninos que no turno da manhã estavam enfrentando dificuldades de aprendizagem nas salas de aula, de tarde estarem brilhando à frente da percussão e/ou da dança. Ainda segundo estes professores, a elevação da autoestima já aponta reflexos positivos no envolvimento e rendimento pedagógico do alunado.

Pais do turno integral de Coronel Fabriciano também deram depoimentos muito favoráveis, afirmando que o temor inicial com a sobrecarga de tempo se esvaiu rapidamente diante do encantamento e alegria expressos pelas crianças e evidenciados por seu desejo de participação. Famílias e escolas confirmam que a evasão e o absenteísmo infantis caíram drasticamente. Este é o desafio! Potencializar conjuntamente as intervenções, sempre em prol das crianças.

Por fim, puxando a brasa para a questão do acesso à leitura, a EM Said Albeny, se antes tinha uma Biblioteca, com o Programa Mais Educação pode oferecer um espaço mais acolhedor e dinâmico, com melhor infraestrutura – e, consequentemente, crianças e adultos têm mais acesso à literatura, livros de pesquisa e estudo, e ao universo letrado em geral.


Livros escritos e ilustrados pelas crianças também ficam orgulhosamente dispostos nas paredes.

Além disso, desenvolvem o projeto Literarte, que disponibiliza livros em espaço aberto, debaixo de uma escada, para as crianças lerem durante o recreio.

O incentivo à leitura, aliás, é perceptível mesmo em escolas cujas bibliotecas não são tão sofisticadas, como é o caso da EM Dom Lélis Lara. Também na hora do recreio dispõe revistinhas e livros menores pendurados em árvores para deleite de seus pequenos leitores.


O município de Coronel Fabriciano também deve ser destacado como aquele que muito vem se empenhando na inclusão de crianças especiais, bem como no atendimento às diferentes dificuldades de aprendizagem – mas isso já requer outra postagem! =)